domingo, 1 de março de 2009

Na primeira manhã


Na primeira manhã que te perdi
Acordei mais cansada que sozinha
Como um conde falando aos passarinhos
Como Bumba-Meu-Boi sem capitão
E gemi como geme o arvoredo
Como a brisa descendo das colinas
Como quem perde o prumo e desatina
Como sol no meio da multidão

Na segunda manhã que te perdi
Era tarde demais pra ser sozinha
Cruzei ruas, estradas e caminhos
Como um carro correndo em contra-mão
Pelo canto da boca um sussurro
Fiz um canto demente, absurdo
Um lamento noturno dos viúvos
Como um gato gemendo no porão
Solidão

(Alceu Valença)

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