quinta-feira, 12 de julho de 2007

expontanear

Acontecia que não era passado...
esse tempo verbal que declamado sempre provoca saudades
principalmente em pessoas nostalgicas que não sabem passar...
mas, seu significado diz que já foi... só resta aceitar.
Acontecia também que não era futuro...
não se via além, nenhuma cor que se inventa
tudo estava envolto de uma estranha neblina
avermelhava os olhos, congestionava as narinas.
Acontecia que presente era...
Um instante tão imediato, que se tornava até dificil de acreditar
Um instante puro, simples
sem sombras e conhecimentos do passado
sem planos e aborrecimentos para o futuro
Um instante que vou lembrar pro resto da vida...

A inspiração dói

Parece que fujo do meu corpo e fora de mim vejo-me pensar
Não é bonito, mas é real
Quase sempre traz choros orgásmicos
Coisa de quem implode visceras.
Tensão nos ombros, arrepios,
nem sei o que andei escrevendo,um pouco da alma dispersa.
Sou como uma expectadora fullgás de minha obra
Não conto histórias, jogo palavras
Um transe fragmentado de captura de instantes.
Acabou.. retomo a normal loucura cotidiana.
Tenho o poder de amassar pápeis...
E quem se importa?
Nem eu, meu caro, nem eu...
Só queria que doesse menos!

sábado, 19 de maio de 2007

Criação do acento

Um ano e meio que fostes embora
Pedras nos olhos
Cortes nas mãos

Enquanto o peito doía
Sonhei com valvulas de escape
Que me veio numa noite sem remédios
Perder-me...

Me perdi tanto
Que nem lembrava mais teu rosto
E só de vez em quando lembrava do meu
Poesia, bebida e sonhos
Um vazio de casas pra arrumar

Outro dia a vida bateu na porta
Sem dentes, cabelo pro alto
Demonstrando irradiante felicidade
Puxei pela memória: quando que deixei ela ficar assim??
E com uma pontinha de remorso lembrei de você

Acho que vou começar pelas gavetas...

domingo, 13 de maio de 2007

Simone
Tinha o sonho de ser arquiteta
Queria criar sonhos de lugares, lugares em sonhos
Mas, só desenhava o que já estava pronto, não tinha talento para construir
Tocava seu saxofone e fazia natação, pensava nisso como hobbies, que um dia poderiam leva-la a mundos distantes, como uma artista internacional...
Voltava a terra rapidamente...
Pensou na geografia, mas viu que os lugares bonitos não eram acessíveis pra todos
E que existia também a geografia da fome...
Bem, Simone a vida tá passando, decida-se logo...
Lembrou-se dos lugares antigos, e viu na história a solução
Mas, tanta dor e sangue manchavam os textos que lia e os lugares que imaginava
Simone decidiu se esconder nos números, onde não havia lugares
Tinha nauseas quando contavam pra ela sobre paisagens...
Quando será que Simone perdeu a esperança
E decidiu fazer administração?
É... o mundo precisa de administradores,
mas Simone só precisava de asas...

(Homenagem a uma amiga do segundo grau que desmaiava nas aulas de História e Geografia)

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Se hoje não vejo saída,
Deixo os dias irem um pouco mais pra frente
O importante é ter a mente aberta
E levitar sobre o peso das coisas...

Acabou sendo amor...

Era de tarde
Tinha as uvas... tinha o morango
Talvez uma manga... hummm...
coloca o mamão também
Tá feita a salada...
E o chocolate, junto com um beijo...
E o filme... Talvez "Brilho Eterno" passando na TV
O sol não estava queimando, mas aquecia a casa
Parecia um ninho...
Um abraço na cintura e uma frase engraçada
Falou que ficou com ciume de fulano e sorriu de lado
Como se soubesse que já sou sua, mas fazia questão de me conquistar
De brigar por mim...
Essa mania de só lembrar as coisas boas é que acabam comigo...

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Logo depois do jantar

Hora de dizer sentimentalidades!!!
Hora de cuspir tudo, se permitir no chão, mas eu preferia que fosse na tua cara...
Sonhos, noites mal dormidas e até as músicas que pensei ter composto pra mim
Tinha aquele mal estar de quem precisava falar e não aguentava mais.
Foi quando vomitei...
verborragias inconsequentes que se espalharam por todo quarto
Chegou a sujar até um pouco a varanda com restos de toda uma vida.
Você se limpava, limpava...
E eu agoniada, também queria ver-te limpo
Mas, já não era possível
Tem palavras ditas que não se recolhe
Que tornam-se formas vivas, habitantes de atmosferas insalubres.
Com muita dó... deitei no chão, rolei no vômito de minhas próprias mágoas

E fizemos sexo... Uma simbiose de amor e podridão.

Emudecer adoece a alma

Se tu viesses me ver
E eu não estivesse pra ti
Talvez me fingindo de morta
Talvez no quarto a dormir

Lembra que de mim nunca viu a indiferença
Lembra de tantas vezes que eu te pedi
Para ser sincero, para que tuas palavras pudesse ouvir
Incansável, não fatigava ao ver-te fugir

Quando vier me ver
E meu olhar estiver fechado
Meu rosto virado pro lado
Fingindo sonhar por outro alguém

Não acredite!
Na verdade o que quero é que você me incomode
Me acorde, grite meu nome em vão
É porque de vez em quando precisamos de retribuição.

Poema de arquitetura ideal

Observava paisagens de outras épocas
Enquanto remoía seu passado
Seus erros, que cismava serem de outros
A ultima fase verdadeira em sua vida
Foi quando mentiu pra si
O unico jeito de ser feliz
As casas amarelas e azuis, estavam um pouco mais pálidas em seus sonhos de futuro
Não era mais como num filme americano
Nem em ilusões de Dostoievsky
E como era bonito quando via assim...
Quando tudo tinha formas de LSD
Mas, depois que ela foi embora e atendia seus telefonemas apenas por cortesia
Não via mais sentido nas mentiras, nas ilusões
A realidade tinha firmeza de criança descalça
E ele passou a ser um poeta realista que se preocupa com o mundo caduco
Um bosta de poeta...
Pois, só sabia escrever, sem pretensões de esperança
Sem sonhos de alteração
Mas, no fundo, bem lá no fundo
É o que muita gente quer
E ao final de cada leitura
Se via aplaudido de pé.

Recuperando o gosto

Maria, é hora de acordar, é hora de acordar!!!
Soturna, ela levanta da cama, toma o café devagar, parece não estar atrasada...
O ônibus demora, o transito tá parado,
E Maria adormece, como uma criança...
Seu trabalho a incomoda, as pessoas a incomodam,
Mas, ela não se irrita
Acha que incomodar faz parte da vida.
Seus relacionamentos são instáveis, não é culpa sua...
Por ela, ficaria parada sempre no mesmo lugar
Todos cometem erros, ela diz, então porque julgar
Não sabe fazer mal, ser mau, mas que merda, o que será a palavra agredir? ela não sabe...
Porra, até eu já estou ficando puta com a Maria
Acorda, Maria, é hora de acordar!!!
Não devia me intrometer, nem queria,
Mas, afinal para que escrever se não posso me meter na vida da Maria?
DEIXE DE APATIA...
Aquele grito em forma de sussurro que veio das entrelinhas, perturbou Maria
Pois bem, Maria pega a caneta, olha pro céu, pensa duas vezes
E diz: eu vou mudar! Mas, só a partir de amanhã...

O limiar

Quando alguém lhe perguntou o que havia acontecido, simplesmente não sabia...
Seu estado de extase e despreparo, mostrava que ela tinha estado no mundo da fantasia
e quando se vai pra lá, é difícil querer voltar, e se faz inevitável chorar quando se percebe a realidade.
Os olhos ainda encharcados iam clareando o exterior aos poucos, e tudo era tão branco, tão nitido, como ela jamais tinha visto. O branco era uma cor que não gostava.
Recobrando a consciência torta, proferiu palavras que nunca iria cumprir, a fraqueza foi seu único dom...
Como que num movimento transcendente, saiu do caminho dos que queriam dançar.
E todos os presentes se lembrariam daquele dia, não pela pena que sentiram daquele olhar, mas apenas porque ver a humilhação tão de perto causou repugnância... Afinal, ela não respeitou uma das regras sociais básicas: existem lugares para tudo nessa vida, inclusive para a desolação. E aquilo era uma festa e não um velório...